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27 de abril de 2021 por Bruno Roma

Crimes, mentiras e infrações sanitárias em falta de energia em hospital no Rio de Janeiro

Crimes, mentiras e infrações sanitárias em falta de energia em hospital no Rio de Janeiro
27 de abril de 2021 por Bruno Roma

No último sábado 24 de abril de 2021 o G1 noticiou falta de energia no Hospital Pedro II no Rio de Janeiro de cerca de três horas. Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/04/24/hospital-pedro-ii-sofre-blecaute.ghtml

A notícia é terrível, mas piora muito quando se assiste ao vídeo da apuração da reportagem feita ao vivo. Por isso resolvi dar a minha opinião sobre esse evento criminoso, com o objetivo de desnudar os fatos que foram maquiados pelos principais responsáveis pela segurança deste hospital, e expor a situação que aflige muitos hospitais pelo Brasil.

Em primeiro lugar eu gostaria de saber onde está o Responsável Técnico pela manutenção elétrica deste hospital?

Se a ocorrência é de ordem elétrica, esperamos que o Responsável Técnico pela parte elétrica do hospital traga as informações, juntamente com o diretor do hospital. Ao invés disso, os que se propuseram a falar trouxeram informações mentirosas e desencontradas.

  • O que o responsável técnico pela manutenção elétrica fez para garantir o abastecimento elétrico para o hospital?
  • O que o diretor do hospital (representante legal) fez para garantia as condições elétricas previstas para o hospital?
  • Há documentos que comprovem ações preventivas adequadas?
  • Há treinamentos para que a equipe de manutenção esteja preparada para estes momentos de falha grave?
  • Qual a atenção dada para a manutenção elétrica deste hospital?

Crimes

Um hospital que fica três ou quatro horas sem energia provavelmente cometeu pelo menos um desses crimes: lesão corporal, tentativa de homicídio, ou mesmo homicídio.

É duro dizer isso, mas precisamos ser realistas. Este evento causou perigo a vida dos pacientes internados. Isso configura lesão corporal grave, podendo causar a morte de pacientes mais graves, principalmente daqueles que precisam de suporte à vida com ventiladores ou drogas.

No vídeo há relato de uma senhora dizendo que seu parente estava em uma seção de hemodiálise quando a energia acabou. Haviam outros pacientes intubados. Há ainda a possibilidade de haver pacientes passando por cirurgias no momento da falha de energia. Todas essas situações são gravíssimas e podem resultar em morte.

Mentiras

“Houve um pico de energia”

A primeira grande mentira que foi dita é que “houve um pico de energia”. Por mais que se queira apresentar um vocabulário mais simples para entendimento geral, o termo “pico de energia” passa uma ideia de algo pequeno, simples, quando na verdade foi uma falha grave de abastecimento de energia que deixou o hospital sem eletricidade por cerca de três horas.

Poderíamos então terceirizar o problema e colocar toda a culpa na Light, que na mesma hora informou que o abastecimento por parte dela estava normalizada, retornando o problema para as instalações elétricas do hospital.

“Os equipamentos possuem baterias para funcionamento de 6 a 12 horas”

Na verdade não temos monitores multipâmetros ou ventiladores mecânicos que funcionem com essa autonomia de 6 a 12 horas, a grande maioria vai funcionar entre 15 e 60 minutos. Aqui já começamos a sentir o desespero da equipe médico-assistencial.

“O hospital possuí sistema de nobreak para funcionar até 24h”

Essa é outra grande mentira. Eu gostaria de saber qual hospital no Brasil tem um sistema de nobreak para fornecer energia para os equipamentos por até 24h? Ainda mais um hospital que nem iluminação de emergência não tem, como requer a norma 13543 da ABNT.

“A falha foi entre a torre de energia, o gerador e o hospital”

Essa é mais uma afirmação para enfeitar o pavão. O sistema é relativamente simples, como exemplificado abaixo, as instalações elétricas da concessionária (distribuição primária) e as instalações do do Grupo Gerador se encontram no conjunto de chaves, que pode variar conforme o projeto elétrico do hospital.

Comecei a pensar, se a energia foi restabelecida, por que será que não informaram qual foi o problema que causou o apagão no hospital?

Fonte da imagem: https://ensinandoeletrica.blogspot.com/2015/06/como-instalar-geradores.html

Este tipo de problema de falta de abastecimento de energia no hospital pode ter como causa uma infinidade de fatores, os mais comuns são:

  • Falha no sistema de comutação automática de carga. Essa falha pode ser do sistema automático, mas também pode ser falha do operador ter deixado o sistema em modo manual, ao invés de automático.
  • Falha na partida do grupo gerador. Quando há falhas na partida do grupo gerador a equipe de manutenção precisa analisar rapidamente o problema e iniciar o procedimento manual de partida e comutação da carga.
  • Falha na cabine primária ou transformador. Algumas chaves podem falhar, danificar-se, fusíveis podem abrir.

Em uma análise de riscos das instalações elétricas, é preciso mapear este risco de falha de abastecimento e manter a equipe muito bem treinada. Se houver equipe terceirizada para apoio em contingencias, ela deve ser acionada rapidamente.

Infrações Sanitárias

A falta de energia em locais críticos por mais de 15 segundos configura infração à RDC Nº 50/2002 e é infração sanitária.

Há de se apurar ainda se houve omissão da garantia de conformidade com as instalações elétricas do hospital, como solicita a RDC Nº 63/2011.

Ainda vivemos um momento sombrio quando falamos de fiscalização em instalações elétricas em hospitais, pois não há:

  • Fiscalização adequada da vigilância sanitária para fazer valer o que está na RDC Nº 50/2002 sobre instalações elétricas
  • Fiscalização da atividade profissional por parte dos conselhos de classe de Engenharia e Técnicos
  • Fiscalização do Ministério do Trabalho para fazer valer as Normas Regulamentadoras NRs, principalmente neste caso a NR10.

“Precisamos de mais investimentos para que isso não volte a acontecer”

Investimento é importante, mas ter um responsável técnico e uma equipe preparada, treinada, que conhece os riscos e que prepare bons planos de manutenção e de contingência, isso sim é o melhor investimento.

Ter um responsável técnico e uma equipe preparada, treinada, que conhece os riscos e que prepare bons planos de manutenção e de contingência, isso sim é o melhor investimento.

Bruno Roma, Engenheiro Eletricista

Referências:

NR 10 – SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES E SERVIÇOS EM ELETRICIDADE

NBR ABNT 5410 / 13534 – INSTALAÇÕES ELÉTRICA EM ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE

RDC Nº 50/2002 – Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.

RDC 63/2011 – Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde

Código Penal Brasileiro

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Comecei o blog em 2011 com o objetivo de compartilhar conhecimento em Engenharia Clínica com os demais colegas de profissão.

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Bruno é Engenheiro de Telecomunicações especialista em Engenharia Clínica.

Atua desde 2007 em Engenharia Clínica.

Tem contribuído com empresas privadas e instituições nacionais e internacionais para o desenvolvimento da Engenharia Clínica,

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