No último sábado 24 de abril de 2021 o G1 noticiou falta de energia no Hospital Pedro II no Rio de Janeiro de cerca de três horas. Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/04/24/hospital-pedro-ii-sofre-blecaute.ghtml
A notícia é terrível, mas piora muito quando se assiste ao vídeo da apuração da reportagem feita ao vivo. Por isso resolvi dar a minha opinião sobre esse evento criminoso, com o objetivo de desnudar os fatos que foram maquiados pelos principais responsáveis pela segurança deste hospital, e expor a situação que aflige muitos hospitais pelo Brasil.
Se a ocorrência é de ordem elétrica, esperamos que o Responsável Técnico pela parte elétrica do hospital traga as informações, juntamente com o diretor do hospital. Ao invés disso, os que se propuseram a falar trouxeram informações mentirosas e desencontradas.
Um hospital que fica três ou quatro horas sem energia provavelmente cometeu pelo menos um desses crimes: lesão corporal, tentativa de homicídio, ou mesmo homicídio.
É duro dizer isso, mas precisamos ser realistas. Este evento causou perigo a vida dos pacientes internados. Isso configura lesão corporal grave, podendo causar a morte de pacientes mais graves, principalmente daqueles que precisam de suporte à vida com ventiladores ou drogas.
No vídeo há relato de uma senhora dizendo que seu parente estava em uma seção de hemodiálise quando a energia acabou. Haviam outros pacientes intubados. Há ainda a possibilidade de haver pacientes passando por cirurgias no momento da falha de energia. Todas essas situações são gravíssimas e podem resultar em morte.
A primeira grande mentira que foi dita é que “houve um pico de energia”. Por mais que se queira apresentar um vocabulário mais simples para entendimento geral, o termo “pico de energia” passa uma ideia de algo pequeno, simples, quando na verdade foi uma falha grave de abastecimento de energia que deixou o hospital sem eletricidade por cerca de três horas.
Poderíamos então terceirizar o problema e colocar toda a culpa na Light, que na mesma hora informou que o abastecimento por parte dela estava normalizada, retornando o problema para as instalações elétricas do hospital.
Na verdade não temos monitores multipâmetros ou ventiladores mecânicos que funcionem com essa autonomia de 6 a 12 horas, a grande maioria vai funcionar entre 15 e 60 minutos. Aqui já começamos a sentir o desespero da equipe médico-assistencial.
Essa é outra grande mentira. Eu gostaria de saber qual hospital no Brasil tem um sistema de nobreak para fornecer energia para os equipamentos por até 24h? Ainda mais um hospital que nem iluminação de emergência não tem, como requer a norma 13543 da ABNT.
Essa é mais uma afirmação para enfeitar o pavão. O sistema é relativamente simples, como exemplificado abaixo, as instalações elétricas da concessionária (distribuição primária) e as instalações do do Grupo Gerador se encontram no conjunto de chaves, que pode variar conforme o projeto elétrico do hospital.
Comecei a pensar, se a energia foi restabelecida, por que será que não informaram qual foi o problema que causou o apagão no hospital?
Fonte da imagem: https://ensinandoeletrica.blogspot.com/2015/06/como-instalar-geradores.html
Este tipo de problema de falta de abastecimento de energia no hospital pode ter como causa uma infinidade de fatores, os mais comuns são:
Em uma análise de riscos das instalações elétricas, é preciso mapear este risco de falha de abastecimento e manter a equipe muito bem treinada. Se houver equipe terceirizada para apoio em contingencias, ela deve ser acionada rapidamente.
A falta de energia em locais críticos por mais de 15 segundos configura infração à RDC Nº 50/2002 e é infração sanitária.
Há de se apurar ainda se houve omissão da garantia de conformidade com as instalações elétricas do hospital, como solicita a RDC Nº 63/2011.
Ainda vivemos um momento sombrio quando falamos de fiscalização em instalações elétricas em hospitais, pois não há:
Investimento é importante, mas ter um responsável técnico e uma equipe preparada, treinada, que conhece os riscos e que prepare bons planos de manutenção e de contingência, isso sim é o melhor investimento.
Ter um responsável técnico e uma equipe preparada, treinada, que conhece os riscos e que prepare bons planos de manutenção e de contingência, isso sim é o melhor investimento.
Bruno Roma, Engenheiro Eletricista
Referências:
NR 10 – SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES E SERVIÇOS EM ELETRICIDADE
NBR ABNT 5410 / 13534 – INSTALAÇÕES ELÉTRICA EM ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE
RDC Nº 50/2002 – Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.
RDC 63/2011 – Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde
Código Penal Brasileiro
Neste artigo vou trazer um breve resumo da história envolvendo o pior acidente radiológico da…
Este artigo dá sequência à investigação sobre o prazo de fornecimento de peças e serviços…
Esta semana, conversei com amigos sobre a legislação que trata do prazo de fornecimento de…
Os equipamentos médicos com HDs ou SSDs podem sofrer falhas e necessitam de backups regulares…
O teste de QI, ou quociente de inteligência, é amplamente conhecido e utilizado em diversas…
Nós que temos o sistema CONFEA/CREA, precisamos sempre conhecer e utilizar as novidades do sistema.…
This website uses cookies.